2007/09/22

Leituras que marcam


(As minhas rosas, hoje de manhã)


Há livros que, escritos em prosa, são de uma carga poética intensa. Lêem-se como se as palavras que os compõem fossem letra de uma qualquer canção. Apetece começar a trautear...

Para mim, este livro foi verdadeira poesia cantada aos meus ouvidos, baixinho, como a voz do autor...

"Kriska porém não ergueu as mãos, preferiu não me tocar. Respirou fundo, abriu a boca para falar alguma coisa, e senti que, com uma palavra apenas, me causaria dano maior. Com uma só palavra Kriska me cobriria de vergonha, me aleijaria, me faria andar torto de arrependimento pelo resto da vida. A palavra estava ali nos seus lábios vacilantes, devia ser uma palavra que ela nunca se atrevera a pronunciar. Devia ser uma palavra arcaica, derivada da voz de alguma ave nocturna, uma palavra caída em desuso de tão atroz. (...) Então, não me contive e supliquei: fala! Kriska não falou. Expirou todo o ar que tinha, balançou a cabeça, voltou para a cama, se cobriu, se virou para o lado e apagou a luz."



Buarque, Chico (2003) Budapeste. Lx: Publicações D. Quixote, p.115.



1 comentário:

Carol disse...

linda a rosa ;-))
bjos